Samir Oliveira, especial para o JC
Mais de 50 mil arquivos estão sendo organizados de acordo com normas internacionais de arquivamento, na sede do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul (MJDH-RS), no Centro da Capital. O projeto, que se iniciou em junho do ano passado, é realizado pela organização Arquiveiros Sem Fronteiras (ASF) e possibilitará a classificação e descrição de todo o acervo do movimento.
A coordenação é do arquivista e professor de Biblioteconomia da Ufrgs Jorge Enríquez Vivar. Ele é ativista da ASF e implementou o ordenamento de arquivos históricos em diversos países da América Latina. "Estamos no término da organização e depois faremos a descrição desse material. É um trabalho fantástico, não temos conhecimento de outro local que tenha esse montante de documentação", observa a professora do curso de Arquivologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) Valéria Bertotti, que integra a equipe de Vivar.
Até abril, a separação dos documentos em cerca de 15 séries e mais de 20 subséries deve estar concluída. "A partir daí, o trabalho será no sentido de descrever os conteúdos desses arquivos para torná-los acessíveis aos pesquisadores", garante Valéria.
O fundador e conselheiro do MJDH-RS, Jair Krischke, lembra que a sede do movimento contém apenas as cópias dos documentos. "Os originais estão guardados fora do País", assegura. Krischke informa que a intenção é, após concluir as etapas de organização e descrição, digitalizar os papéis e publicar um livro sobre a trajetória do movimento e a organização de seu acervo. "Esse trabalho é uma forma de reconstituir a história do Cone Sul", observa.
O projeto, que conta com financiamento da ASF, tem custo estimado em R$ 500 mil entre mão de obra, equipamentos para digitalização e viagens. A estimativa é que até dezembro de 2011 todas as etapas tenham sido cumpridas. "Pretendemos realizar uma exposição com todo o material, além da criação de um mecanismo de pesquisa na sede do movimento", projeta Krischke, que não descarta a possibilidade de implementar uma exposição itinerante.
A maioria dos documentos do MJDH-RS contém informações, relatórios e depoimentos sobre as ditaduras militares no Cone Sul durante as décadas de 1960 e 1980. Entretanto, há também arquivos sobre discriminação social, tráfico de crianças, corrupção, violência policial, entre outros.
Os registros sobre as ditaduras começaram a ser coletados em 1964, com o golpe militar brasileiro. "Recolhíamos os depoimentos daqueles que nos pediam ajuda para sair do País. Refugiamos mais de 2 mil pessoas, isso está tudo documentado", explica o fundador do movimento.
A maioria dos arquivos foi obtida através de requisições a governos estrangeiros, como o do Uruguai, que liberou centenas de arquivos após a eleição de Tabaré Vásquez para a presidência, em 2004.
O acervo conta com raridades, como o documento atestando a volta do ministro da Justiça, Tarso Genro, ao Brasil, em junho de 1972, depois de ficar exilado no Uruguai; um memorando da agência de inteligência dos Estados Unidos (CIA) reportando a ida do presidente deposto João Goulart a Montevidéu, em 2 de abril de 1964; e até mesmo a ata da reunião que inaugurou a Operação Condor - união dos aparatos de segurança das ditaduras militares no Cone Sul.
http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=17770&codp=25&codni=3
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